Sentimento e intuição na lírica

Amado Alonso, irmão de Damaso Alonso. Filólogo, linguista e crítico literário, um dos expoentes da Estilística moderna.
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Não sei quê

Muitos poemas, de várias línguas, chegam a esse tema peculiar, que Augusto Meyer chamou de “Não sei quê”. O que está por trás dele é a tentativa de expressar o inexpressável. O ensaio de Meyer, como sempre, é uma obra de arte, um não sei que de beleza e erudição.

Portinari: Retrato de Augusto Meyer. 1937.
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Descrever é um ato político

Neste texto veremos como a descrição é mais do que uma técnica literária. Ela tem implicações políticas e estéticas, diz muito sobre a mentalidade de uma época e tem sido preocupação de grandes teóricos da literatura.

Gustave Flaubert, Anton Tchekhov, Georg Lukács, Jacques Ranciere, Francine Prose
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Teoria da Literatura

Engana-se quem achar que Teoria da literatura de René Wellek e Austin Warren é um manual de teoria literária e crítica. Há uma concepção teórica que faz dele uns dos representantes do programa formalista da literatura. Defende a ideia de poeticidade e tem como pressuposto a existência de uma teoria específica da literatura, não uma teoria geral da linguagem.

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Novela ou romance?

William Waterhouse: “Cena do Decameron de Giovanni Boccaccio”. 1916

Viktor Chklovski, um dos nomes mais importantes da crítica literária do começo do século passado, em “A construção da novela e do romance” tratou do romance como forma, defendendo a tese de que seus procedimentos são oriundos do desenvolvimento da novela.

Sem fazer uma abordagem histórica das formas que originaram o romance (antes o autor elenca alguns procedimentos que o constituem)  o ponto de partida do seu artigo é uma definição sobre a novela: “a novela é uma combinação de construções em cadeias e em plataformas e ainda complicadas por diversos desenvolvimentos”. Em outras palavras, uma novela é aquela narrativa que encadeia pequenas histórias, dando-lhes unidade: “toda série de novelas encontra-se contida numa novela padrão”. As várias maneiras de se elencar as novelas em um todo são os procedimentos que, posteriormente desenvolvidos, configurariam a forma do romance tal como o conhecemos hoje.

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Dois gigantes da teoria literária

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Damaso Alonso e Ernst Robert Curtius

Tudo começa quando, em “Poesia Arabigoandalusa”, Damaso Alonso resolve usar versos do monge Gonzalo de Berceo (primeiro poeta a escrever em castelhano) com a intenção de ilustrar alfumas ideias:

Por volta de 1243 Gonzalo de Berceo vivia em seu frio norte. Sempre o imaginamos escrevendo, afoito, ante o terror da noite vindoura:

Os dias não se estendem, anoitecerá tão logo:

Escrever nas trevas é um mister penoso…”.

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William Faulkner

William Faulkner e mapa de Yoknapatawpha

Robert Penn Warren foi um importante crítico literário dos Estados Unidos, um dos expoentes da corrente teórica conhecida como New Criticism. Em seu Selected Essays há um trabalho interessante sobre o escritor William Faulkner, trabalho que se destaca por tocar profundamente no tema da escravidão na obra do ficcionista.
O interessante é que o crítico não busca dados sócio-históricos dos Estados Unidos para iluminar a compreensão da obra, como é costume na crítica tradicional, inclusive na crítica acadêmica; o que ele faz – e a metodologia nos serve de lição – é compreender os Estados Unidos tal como Faulkner o interpreta, compreender a sociedade e a História forjados pelo ficcionista. Por isso é que, quando Warren trata da questão da escravidão e dos conflitos sociais da guerra civil, ele não está querendo compreender o país em que Faulkner nasceu: ele quer compreender o país que Faulkner inventou.


O ensaio se destaca pela maneira como o crítico consegue encontrar o centro daquilo Jean Paul Sartre chamou de metafísica de Faulkner, ou seja, as premissas de seu pensamento, as concepções filosóficas que formatam os romances. É um verdadeiro exercício de crítica, cujo esforço deve ser justamente, dentre outras coisas, encontrar a unidade de uma obra, mesmo que tão complexa, extensa e até mesmo, de certa maneira, instável como a de William Faulkner.

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Arte e fascismo

Albert Janesch: “Esportes aquáticos”. 1936. Exemplo de estética nazista, representa-se a falsa superioridade física do homem ariano. Uma das características da estética nazista é a idealização. Ler o ensaio de Suzan Sontag, “Fascinante Fascismo”, no qual analisa o álbum “Os Últimos Nuba”, de Leni Riefenstahl.

Recentemente a revista “Serrote” lançou “Doze ensaios sobre o ensaio”, antologia que nos mostra em perspectiva o potencial desse gênero tão importante em uma época como a nossa, em que a profundidade e o não dogmatismo do pensamento se fazem tão necessários.

A antologia reforça que, por mais difícil seja definir o ensaio, algumas de suas características principais são inequívocas: não se fecha por completo, não se direciona em caminho unívoco, levanta problemas sem necessariamente buscar soluções, é possível acompanhar os movimentos intelectuais do autor, as oscilações de seus argumentos, circundando o objeto em vários ângulos sem o atingir integralmente. O ensaio não adota a metodologia científica e, por isso, chega aonde a ciência, limitada, jamais chegaria.

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