Dois gigantes da teoria literária

teo
Damaso Alonso e Ernst Robert Curtius

Tudo começa quando, em “Poesia Arabigoandalusa”, Damaso Alonso resolve usar versos do monge Gonzalo de Berceo (primeiro poeta a escrever em castelhano) com a intenção de ilustrar alfumas ideias:

Por volta de 1243 Gonzalo de Berceo vivia em seu frio norte. Sempre o imaginamos escrevendo, afoito, ante o terror da noite vindoura:

Os dias não se estendem, anoitecerá tão logo:

Escrever nas trevas é um mister penoso…”.

Continue reading

Poesia epifania

Salvatori Caramagno

Os limões

Escuta-me, os poetas laureados
circulam apenas entre plantas
de nomes pouco usados: buxeiros alienas ou acantos.
Eu, por mim, prefiro os caminhos que levam às valas
cheias de mato onde em lamaçais
já meio secos meninos apanham
alguma esquálida enguia:
as trilhas que bordejam os taludes descem por entre os tufos de caniços
e se metem nas hortas, entre os pés de limão.

Tanto melhor se a algazarra dos pássaros
se dissipa engolida pelo azul:
mais claro se escuta o sussurro
dos galhos amigos no ar que mal se move,
e as sensações deste cheiro
que não se larga da terra
e faz chover no peito uma doçura inquieta.
Aqui se cala por milagre
a guerra das desencontradas paixões,
aqui até a nós, os pobres, toca uma parcela de riqueza
e é o cheiro dos limões.

Continue reading